Amanhã fazemos seis meses de aleitamento materno
exclusivo. Catorze meses construindo um corpo humano. Durante este tempo, o meu
filho se nutriu do meu corpo. O primeiro alimento não é só de nutrir o corpo, é
de nutrir todos os aspectos do Ser. O seio não é apenas fonte de nutrientes, é
a fonte da Vida. É de onde jorra leite, amor, abraço, afago, cheiro, pulsação,
voz, olhar, segurança. Se alimentar não é apenas saciar o estômago, desde o
início da formação das nossas conexões cerebrais, desde que começamos a
entender o que é alimento. Comer é prazer, por que sempre foi, desde a nossa
primeira engolida no leite. Comer é segurança, conforto, é receber amor. É um
ato cultural, social, permeado de significados, memórias de sensações.
Quando
começamos a introduzir outros alimentos na dieta do bebê, o comer tem todo este
potencial de prazer, de ser um ato que revive a sensação do Materno. Mas na
manutenção de um ciclo de relação ruim com a comida, mediada pela valorização
do artificial, pela falta da manutenção e desenvolvimento da saúde, pelo culto
ao corpo padronizado e forjado artificialmente, nós não sabemos deixar que
nossas crianças comecem a comer, e não sabemos lidar com a maneira infantil de
comer.
Talvez cada bebê tenha uma maneira e um tempo para começar a se alimentar
de outras fontes que não sua mãe, e tenha também seu tempo de abandonar de vez
o peito. Talvez nosso papel seja sugerir alimentos, quantidades, contextos e
maneiras diferentes de comer e deixar que eles, através da busca natural por
prazer, escolham sua forma de comer. E que mudem. Nosso papel seria, então, não
atrapalhar a relação já formada entre comida e prazer. Imagino que assim, as
relações entre comida, corpo, saúde e prazer seriam permeadas por liberdade,
aceitação, responsabilidade. Estaríamos indo contra todo o "sistema",
permitindo o desenvolvimento de pessoas livres.
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