quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

O Puerpério

Imagem royalty-free: My best pool jump





O mar invade com violência.Um mar repleto de amor e com alguns monstrengos flutuando. Eu e meu bebê somos jogados longe pelo mar que bateu no peito e somos arrastados sabe-se lá pra onde. Tento me segurar em alguma coisa, mas não tem mais nada ali. Luto para não levada, e sempre com meu bebê nos braços. Um braço se agita pra nadar, e o outro se contrai dolorido de segurar o bebê. Eu olho para ele e ele me devora, me engole inteira e eu me perco no seu corpinho. Ele olha pra mim e eu o devoro com a intenção de devolvê-lo pra minha barriga. Os dias passam, estamos cansados debaixo de toda aquela água. Então me ocorre parar de nadar um pouquinho e só me entregar.Meus braços relaxam e eu seguro meu bebê de leve, deixando ele flutuar também. É gostoso flutuar, a água nos leva pra cima e os monstrengos ficam menores. Vamos relaxados e livres para nos afogar naquele mar de amor. Agora boiamos juntos e às vezes mergulhamos um pouco. Muitas vezes me dá um medo, porque não sei onde estamos, não sei o que fazer, se ficar ou nadar. Mas quando me entrego, tudo fica mais gostoso.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Agora estou no facebook também!!!

https://www.facebook.com/EngravidarEParir

É só entrar lá e curtir a página.

Te espero!!!

Velha


Imagem royalty-free: portrait close up older woman


Estou envelhecendo. Chego aos trinta com o peito murcho de amamentar, a barriga protuberante, a bunda caída. Minha pele está mais áspera e marcada. Não tenho mais tanta energia pra virar a noite bebendo, dançando e fumando em um ambiente com música alta e muitos amigos. Não me cabe mais muita coisa. Nem roupa, nem situação, nem humor. Sinto nas costas o peso do meu filho, do meu trabalho, da responsabilidade com minha família e minha casa. Da responsabilidade com meus vizinhos, com minha cidade. Penso mais naquilo e menos nisso, faço mais disso e menos daquilo. E reconheço, reverencio, me entrego com languidez pra velhice que chega devagar. 
Não é tão cedo pra aceitar o destino que já vejo se fazendo no meu corpo. Loucura seria negar qualquer transformação e chorar trancada no quarto, nua, abraçada no espelho sincero. Seria estupidez alimentar uma indústria que vive do desespero daquelas que se agarram nos anos passados, no corpo que já não existe, na juventude que já se foi. Cremes, cirurgias, dietas, um batalhão lutando uma guerra já perdida contra o Tempo. 
Sinto que é melhor a entrega. É relaxante,  e todas as vozes que gritavam o tanto que é feio a velhice feminina se tornam um sussurro longe... Ser velha é bonito, eu consigo ver o quanto. Trilho o caminho visando o desfecho certo e libertador da Morte. Sei que para ser velha é preciso olhar pro agora, pras pedras que repousam no chão, pro vento que sacode as árvores, pros olhos de cada um ao meu lado. É o caminho que importa. Cada fio de cabelo branco que aparece, cada flacidez descoberta, cada ruga nova na testa me mostra que sou amante do Tempo. Mostra o tanto que ele passou por mim, as vezes galopante e as vezes preguiçoso, e me deixou tanto, levou de mim mais um bocado. Se torna um velho amigo, um mestre querido, ou temido ou odiado. Eu aprendi. E isso é belo. Meu corpo carrega a história, a minha e de todas as mulheres, carrega a origem e o alimento de toda a humanidade. E isso é belo, é sagrado. 
Uma das mulheres que eu mais amo nesta vida é minha avó, ela é velha desde que eu nasci. E como ela é linda, toda ela! Seu corpo murcho, os cabelos brancos que teimam em sair da cabeça e passear através do vento, caindo em todos os lugares. Sua pele pintada e cheia de veias azuis tortuosas como rios. Seu andar lento, as mãos trêmulas, o cheiro de um suor seco e leite de rosas. Todo aquele corpo que conta uma existência! Quantos suspiros naquele peito, quantos afagos daquelas mãos, quantas lágrimas daqueles olhos caídos por trás do óculos grosso. Da sua boca fina quantos sorrisos e gargalhadas e beijos e palavras! Quantos ainda continuarão saindo daquele ventre através da descendência! Eu presencio todo o milagre da vida naquela mulher tão linda e sagrada. 
Uma mulher velha desperta medo por que tem um poder tão gigantesco e misterioso que para ser adormecido foi preciso uma desvalorização longa e sistemática, a mesma que transformou a bruxa em um personagem de terror. Não há terror na Ansiã, há poder, beleza, vida! É aquela que sabe a linguagem da alma, o segredo do tempo, a dona da criação. É a tecelã, a cozinheira, curandeira, conselheira. É aquela próxima da morte, que gerou vida, e que por isso sabe se comunicar entre os mundos. Você, velha, é tudo isso. Está tudo aí.      

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Carta ao parente que virou desafeto por que não concorda com o jeito que crio meu filho.


Eu pensei em não escrever esta carta por que eu já sabia antes até de engravidar que muitos discordariam das minhas decisões com relação a minha família e aos meus filhos simplesmente por que decidi não ir pelo caminho mais comum ou pelo mais fácil mas resolvi parar, estudar e ir pelo melhor caminho. Geralmente ele é raro e difícil, mas decisão tomada: não vou pegar atalhos. 
Me enganei quando pensei que não me importaria com o que qualquer pessoa achasse disso. Com você eu me importo por que você faz parte importante da vida do meu pequeno e da vida da minha família. Mas isso não faz com que eu mude minhas decisões e que abra mão da minha responsabilidade. Esta responsabilidade cabe apenas aos pais e qualquer tentativa de deslocá-la ou distribuí-la pode trazer consequências ruins para o meu filho. Ele perderia as referências de núcleo famíliar, a segurança do pertencimento, a coerência na organização da vida e na formação do ser. Seria fácil para mim criar meu filho com uma coletânea de palpites  alheios, por que qualquer erro cometido não seria minha culpa. Eu seguiria com a consciência de um passarinho coletando palpites e distribuindo culpas. Não foi este o caminho que escolhi. 
Talvez seu desafeto se enfraqueça ou mesmo se desmanche (quem sabe) se você souber que tudo o que eu faço com o meu filho tem relação apenas com o bem estar e desenvolvimento dele, e não tem nada a ver com minhas relações com outras pessoas. Tudo o que fazemos tem base em alguma pesquisa científica, valores humanos ou intuição materna ou paterna. Sempre, invariavelmente, buscando o melhor que podemos fazer por ele apesar das nossas limitações. 
A partir do muro da minha casa, é tudo minha responsabilidade e eu peço que procure compreender com amor a minha decisão de não repassá-la a você ou quem quer que seja. E eu sinto muito, com todo o meu coração, que a chegada de uma criança tenha gerado desarmonia. Sei que meu filho jamais desejaria isso, pelo contrário. Seu papel, simplesmente por existir é de união, pois no seu corpo tão pequeno carrega a fusão de duas linhagens familiares inteiras através do amor. Espero que possamos honrar a presença deste amado ser e construir uma ponte de compreensão e sabedoria entre nossos corações. Que possamos sempre aprender uns com os outros. Escrevo sem nenhuma prepotência ou orgulho, apenas com amor.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Saudade da Lua Vermelha



Antes de engravidar eu havia parado de tomar pílula pelo mal que estava me causando. Meu corpo já não sabia quem era, estava confuso entre envelhecer ou ficar jovem, entre gerar ou sangrar. Ele não sabia mais o momento de se preparar para algo. Para o que? Ele havia esquecido. 
Minhas emoções acompanhavam este corpo perdido, a unidade se partiu e eu era ora boa ora má, ora linda ora ogra, ora amada ora abandonada, ora masculino autoritário e agressivo ora feminino fraca e carente. Um caos com uma bela máscara suntuosa e carnavalesca de mulher resolvida e guerreira com uma vida na qual quase não cabe um filho. E me corroía as entranhas, por trás da imponente máscara, uma vontade louca de engravidar. 
Neste atropelo também não cabia menstruar. Se quando menina já tinha aprendido que era ruim, se quando menarquei fui tomada por uma força maior que meu corpo de menina e que minha alma de criança, se quando eu menstruava eu sempre sucumbia em dor e desafeto. Agora que desejava secretamente um filho, a cada mês que o sangue escorria escuro entre as minhas coxas eu recebia um atestado carimbado e assinado pela natureza de incompetência feminina, sentia raiva do corpo burro que recebia as células procriadoras e amorosas do meu querido e não sabia o que fazer com elas. No alto da minha prepotência e com a máscara grudada na cara, eu é que não sabia. 
Desculpa, corpo, você que é o ser mais sábio que me guia. Não sabia que você estava se recuperando de dez anos seguidos de intoxicação hormonal, que você precisava de mim pra curar 28 anos de intoxicação mental sobre a sua mais sagrada forma de expressão, a menstruação. Me perdoe amado corpo. Te admiro agora, profundamente e com muito respeito, por tudo o que você fez tão perfeitamente,  e vem fazendo, depois que decidi parar de brigar com você. Algumas lições são tão grandiosas que minha alma ainda não entendeu. 
Nos meses em que não engravidava, desciam mais lágrimas que sangue e eu sentia tristeza como em um luto. Resolvi viver o luto, e me deparei com a cara da morte. Olhando bem pra ela, não sem medo, eu entendi com o coração de mulher, que a menstruação é a preciosa morte a nos visitar todo mês. E que alegria e gratidão quando notei que tinha a oportunidade mensal de me desfazer de todo peso morto no meu corpo e nas minhas emoções! Claro que dói, claro que mexe, que dá "tpm"! É a morte! Ela, a ceifadora sinistra que vem arar o campo, arrancar as ervas, remexer a terra. Sem isso nada mais poderia ser plantado, nada de novo brotaria nem no ventre nem na vida. Abençoada seja menstruação, venha que te espero ansiosamente pra poder olhar no espelho nua, sem máscara, sem vício. Venha arar meu útero e minha vida para que eu possa me semear, me plantar e me renascer a cada ciclo! 
A beleza desta morte foi socialmente silenciada e negada, dentro das nossas casas passamos de mãe pra filha, entre amigas e entre irmãs apenas o horror da morte. Mas ela é mais, é grandiosa, misericordiosa e amorosa destruidora. Quando a encarei com amor e respeito, quando desejei minha menstruação, ela parou de doer tanto, parou de inchar tanto e já não pegava meu orgulho pelo pé. Então engravidei. E agora, que meu corpo tanto fez, por mim e pelo seu fruto de criação, o Pedro, a produção do néctar da vida (o leitinho de Pepê) ocupa um lugar em mim que eu ainda não enxergo. Talvez por que meu namoro com a Lua Vermelha tenha sido tão intenso mas tão curto que meu coração feminino está tomado de saudades!