quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Eu sirvo pra ser mãe



Até agora ser mãe pra mim tem sido servir, e eu percebi isso há apenas alguns dias. Eu me incomodava com a ideia e a sensação de ter meu corpo tomado por outro ser desde as minhas entranhas, meus órgãos mais íntimos, meus seios, minha fisiologia, minhas ações, meu tempo. Ser assim arrebatada por uma invasão sem limite que mostra que nada me pertence, que eu não sou meu corpo nem meu tempo, muito menos minha mente e meus pensamentos. Tudo está tomado por outro ser. Isso ainda me incomoda, mas só porque mostra uma verdade inquietante. O que sou eu afinal, nem ouso pensar em responder. Vai que me tomam? 

Mas esta sensação de nada meu não é nada comparada à vida do meu bebê. Este sim tem um corpo que não o pertence, não está afinado com suas vontades e é manipulado por quem desejar assim fazê-lo. Os pensamentos e emoções dele são tão invadidos pelos de fora que ele mesmo se confunde em saber o que nasce nas suas sensações e o que é estrangeiro. Suas funções fisiológicas e emocionais são totalmente dependentes do outro, um outro tão invasivo e grande que ele confunde com ele mesmo. O que é ele, e o que não é, agora é impossível definir pois ele vive na invasão constante, ou fusão, no psicologuês. 

O meu trabalho agora, e o trabalho mais importante que eu tenho feito desde que recebi uma célula no meu ventre fértil, é serví-lo. Servir como uma escrava ao seu senhor, como um serviçal ao seu rei. Estar disponível, disposta, fazer o que for necessário, o que me pedir, o que precisar. Não há nada mais difícil que servir com amor, por que o meu desejo é que meu senhor se sinta bem, atendido nas suas necessidades, que ele não se preocupe com nada daquilo que me pediu, que ordem dada seja ordem cumprida, mesmo que seja difícil, mesmo que me deixe marcas, mesmo que meu senhor não saiba o que me custou trazer aquela bandeja. Quero que ele se sirva a vontade, que repita se desejar, que coma com todo o prazer que seu corpo puder produzir, e quero que me mande buscar mais. Se é para a sua felicidade, meu amo querido, eu vou. 

Parece ruim? Tem muitos momentos em que eu não quero, mas não tem como desistir. É apenas uma lição nesta vida relâmpago, uma das mais valiosas. Servir é uma arte que nos faz perder o apego a nós mesmos, nos faz olhar pra frente, pra cima, pra dentro. Para servir bem é preciso amar, desejar, conhecer, ter ação e coragem. Eu sempre gostei de servir, não é por acaso que cozinhar é uma paixão e que eu escolhi ser doula e psicóloga. Mas eu jamais, em nenhuma dessas atividades, seria tão convidada e ensinada a servir por puro amor como faz comigo a maternidade. Obrigada por mais esta grande lição, meu pequeno senhor. 

Um comentário:

  1. Filha, esse é um grande passo para a sua Espiritualidade. Está caminhando na direção certa. Parabéns!

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